Observe bem ao seu redor, tente sentir o que se passa, tente
entrar e se encaixar na vibração do concreto armado, na constância inconstante
do espaço/tempo, se encha com todo o odor que rodeia. Observe as cores na falta
de cor presente nas misturas fixas e impalpáveis.
Não ver o mundo, não sentir o mundo, não viver o mundo, é
esse o preço por viver nesse mundo, é esse o preço pago pela consciência
inconsciente diária, é esse o sentido completamente sem sentido de todos os
momentos decorridos e percorridos, e é esse o objetivo traçado sem traços ou
definido, completamente abstrato e irreal.
Quais são os sentidos que estão a prova? Quais os
sentimentos que estão ameaçados? Quais os valores apontados? Não há questões ou
questionamentos, há eternas reticencias, eternas vírgulas.
Tudo se perdeu nas infinitas definições, nas edificações
pessoais, nos muros interpessoais, no asfalto sentimental e nas belezas fixas e
deformadas. Não há fogo porque não há ardor, não há gelo porque não há tremor,
tudo se resume às inabaláveis e pequenas fortalezas de areia.
Assim o mundo se recria e se define, através das apercepções
externas e dos abandonos internos, das depredações generalizadas e repulsas de
si. Assim o mundo tem cada vez menos cores, menos textura, menos perfume e menos
música, assim o mundo se faz tenro e sólido , vividamente pálido e insipido.