segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Parabéns?



Nas parabenizações anuais, qual a margem de real identificação com os desejos direcionados? Qual o grau de empatia de fato sentida? Qual o verdadeiro sentimento implícito presente naquela breve ou longa descrição explicitada?
Parabenizar alguém por mais um ano de vida é de fato reconhecer que apesar de parecidamente diferente o outro ser merece felicitação por conquistar mais um ano em suas lutas diárias, através de seus erros e acertos, de suas qualidades e máculas entranhadas, é reconhecer que mesmo na discordância, na distância, no eventual dissabor existe a constatação do êxito, da humanização do outro ser através da nossa.

Será que sempre sentimos tais desejos? Será que sempre queremos desejar tal coisa? Ou será que somos simples párias? Será que sabemos ou somos capazes reconhecer tal humanização? Ou será que somos apenas condicionados às convenções sociais? Será que não demonstramos apenas aquilo que queremos enxergar em nossa auto-observação, buscando, na verdade, um reflexo daquilo que achamos que os outros veem de nós? Ou será que não somos apenas um produto daquilo que os outros esperam e que tentamos desvirtuadamente estampar nas redes DISsociais? Parabenizo ou mecanizo?

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Enredo

Aquele primeiro momento em que nenhum de nós acreditou que poderia ser, naquele instante em que ignorávamos todos os nossos sentidos aos berros, e desacreditadamente nos aproximamos, sem saber iniciávamos ali nossa história. Nada de conto de fadas, muito menos uma comédia romântica, mas uma história de enredo próprio, sem autorias, créditos ou coadjuvantes, há apenas nós dois, protagonistas sem personagens, atores de si.

Vivemos de nós em nós, escrevemos cada linha de uma vez, cada trecho de forma desapropriadamente própria a nós, iluminamos cada ponto da maneira que enxergamos, mesmo que não consigamos ver nada, damos a entonação merecida a cada olhar, cada fala no seu indevido lugar, porque sabemos que ao sabor do toque iremos entender começo, meio e fim.


A cada nova escrita, a cada revisão de enredo, a cada nova atuação percebemos que a história na verdade nunca teve começo e nem fim, que na verdade essa história sempre esteve escrita de alguma forma e que a cada página transcrita haverão várias outras em branco. Se não teve começo, nunca terá fim.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Faz tempo que não escrevo, faz tempo que não reflito em notas os pensamentos desapropriadamente meus, os sentidos dessentidos pluralmente ressentidos. Tempo que não exponho intrinsecamente palavras desajustadas de vontades desamarradas, que não observo em rascunho, que não enxergo ao olhar próximo, que não deflagro em metáforas palavras não ditas, algumas apenas presumidas. Há tempo que me esqueci de sabores sobrevividos, do frio apropriado, das falácias cotidianas, do querer indevidamente certo, do querer apenas, do tempo em que o tempo era mais que o tempo.

Faz tempo que não vejo o tempo ter tempo para nosso cada tempo.

domingo, 21 de abril de 2013

Perspectiva


Acordei cedo, dia diferente, normalmente sempre acordo tarde, com o despertar do cheiro do almoço exacerbado pelo estômago faminto e a boca seca a salivar, acordei com o sol adentrado pela única fresta possível da cortina, chamado através dos movimentos da cortina e do vento leve que soprava. Coloquei os óculos e olhei direto pela janela, olhei sem direção, sem pretensão, sem a intenção que já me acometeu, de ver um mundo diferente, de ver um amor diferente, um dia diferente.

Amanheci nostálgico de um passado que nunca vi, com saudade daquilo que nunca senti, vislumbrado com um futuro que ainda não havia enxergado, como num simples sonho realista. Mas dessa vez o dia parecia mais claro, menos enevoado, mais vívido, o mau humor matinal durou até menos. Realmente um dia diferente a se começar.

Vivi aquele dia, como novidade, como um primeiro, algo inédito, um dia inexplicavelmente único. Vivi a pino, assim como o sol ao meio-dia.

A noite chegou e com ela a expectativa pelo dia seguinte e pelos próximos, a nostalgia do acordar voltava à tona e junto com o cansaço do dia tornava-se pior. E assim ele me venceu naquele dia, mal dormi e a noite já passou.

Acordo cedo novamente, mas dessa vez não há sol, não há fresta na cortina, só o vento, não há nostalgia, nem saudade, há apenas a perspectiva sobrevivente do dia anterior, perspectiva que passou a ser constante, diária, rotineira. Passou a ser uma forma de viver, onde a diferença está apenas nela, na perspectiva diferente de olhar cada dia, olhar cada amor.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Ilusório e Real


Hoje fui em busca de você, em busca de reencontrar a nós, em busca de reviver o que ainda não foi vivido, querendo responder as questões que não perguntamos, esclarecer dúvidas não levantadas, sentir aquilo que deixamos inacabado, com aquela pausa momentânea que nunca retomamos.

Fui em busca daquele seu olhar que me fazia abrir mão de tudo e todos, em busca daquele cheiro que fazia meu corpo vibrar incessantemente, de sentir seu toque que me levava desse mundo para um completamente fora desse plano. Corri pra ter aquele beijo que parava o mundo e nada ao redor fazia mais sentido, tudo não era nada, completamente irrelevante.

Corri, corri mais que minhas pernas pudessem suportar, além do meu folego, mas não te encontrei. Busquei em todos os locais conhecidos e desconhecidos, tentei e morreria tentando... E quando não mais sabia onde procurar, onde enfim te reencontrar, nesse instante eu descobri. Descobri que ainda não te achei, que você é apenas fruto da minha imaginação e criação solitária da minha mente perdida e cheia de devaneios, é a personificação de sonhos. Descobri que você até existe, mas não para mim, ainda.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Vivendo


Observe bem ao seu redor, tente sentir o que se passa, tente entrar e se encaixar na vibração do concreto armado, na constância inconstante do espaço/tempo, se encha com todo o odor que rodeia. Observe as cores na falta de cor presente nas misturas fixas e impalpáveis.
Não ver o mundo, não sentir o mundo, não viver o mundo, é esse o preço por viver nesse mundo, é esse o preço pago pela consciência inconsciente diária, é esse o sentido completamente sem sentido de todos os momentos decorridos e percorridos, e é esse o objetivo traçado sem traços ou definido, completamente abstrato e irreal.

Quais são os sentidos que estão a prova? Quais os sentimentos que estão ameaçados? Quais os valores apontados? Não há questões ou questionamentos, há eternas reticencias, eternas vírgulas.
Tudo se perdeu nas infinitas definições, nas edificações pessoais, nos muros interpessoais, no asfalto sentimental e nas belezas fixas e deformadas. Não há fogo porque não há ardor, não há gelo porque não há tremor, tudo se resume às inabaláveis e pequenas fortalezas de areia.

Assim o mundo se recria e se define, através das apercepções externas e dos abandonos internos, das depredações generalizadas e repulsas de si. Assim o mundo tem cada vez menos cores, menos textura, menos perfume e menos música, assim o mundo se faz tenro e sólido , vividamente pálido e insipido. 

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Respondendo


O que você poderia ser? O que gostaria de ser? O que te faria ser esse tal ser? E o que não faria? Desde quando você busca isso? Até quando essa busca existirá?

Muitos vivem nesse ritmo de perguntas próprias e inapropriadamente impróprias que aparentemente são findadas com as respectivas respostas, com as tais resoluções individuais e totalitárias. Focalizam num tal objetivo único plurificado onde a insolução se torna fracasso, incompetência, em que a transformação, a mutação seja contínua e drasticamente repentina, provocando o reestabelecimento de todo o âmago no variar dos segundos. A busca se torna cada dia mais insensível, friamente calculada, à beira da frigidez completa, em que o alcançar é o ponto final de cada interrogação. A pontuação se torna mais importante que o próprio teor, a busca pelo pontuar é mais agradável que o que antecede, que o transitório.

Descobrir aquilo que se é, o que se pode ser, é o que move e provoca um novo mundo. E o que difere cada ser é exatamente a peculiaridade de cada perspectiva, onde ritmar a busca e a definição da meta entre teor e simplesmente pontuar é o que faz o entendimento ou não de que se é aquilo que se é, ou aquilo que se quis tornar. Aceitar não é conformidade, é entender que a personificação de um ser próprio é completamente diferente da compreensão, é perceber a linha tênue que separa a transformação da mutação.

Aquele que não entende ou não visualiza as sutilezas intrínsecas de si, jamais perceberá ou será capaz de conviver com as de outrem.