quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Normalmente Loucos

Tem certos dias que ao acordar a sua manhã parece normal demais, até então alguém, naquele primeiro contato matinal lhe dizer algo, que pode ir desde o saudoso e simplório ‘Bom dia’, até o “Você é louco” - no meu caso aconteceu a parte do louco. Na hora não se sabe muito o que dizer, você está apenas acordando, seu cérebro ainda não consegue especificar nem o que ele é, o que dirá ter algo pronto o bastante para retribuir tamanha estima num momento como esse. Mas assim que retomada as condições, quis indagar: ‘Por que louco? Dormi igual a morcegos? Uma cama de faquir não me foi o bastante?’. Pensei nas coisas mais bizarras possíveis naquele instante, era o que me caberia, afinal o comentário provinha logo após uma noite de sono. Mas tem certos momentos que nada é suficientemente bizarro para descrever uma situação ou descrever um ser, e foi logo ao entrar nesse mérito que o estimado executor da pergunta desapareceu. Das duas uma, ou ele teve a confirmação da minha plena e absoluta loucura ou ele apenas achou o papo irritante demais para continuar ali. Pra mim já não fazia diferença, principalmente após esse singelo despertar.
O que realmente é intrigante é a questão de até onde pode ir a nossa loucura ou até onde somos normais, é até onde vai essa linha tênue que divide esses estados mentais reproduzidos em espelhos de nós mesmos, se é que há tal divisão. É até onde pode-se pré-definir um grau ou uma qualificação. Talvez ser normal seja o caminho pra loucura, talvez ser normal seja loucura, ou uma loucura seja tão normal, talvez a loucura seja o único remédio contra a tristeza.
Viver não é normal, é loucura. Sobreviver é que é normal, e é por isso que se está aqui. Viver é bem mais que manter a mente sã, é bem mais que cometer devaneios. Viver é sobreviver a cada dia normal através de loucuras, é enlouquecer normalmente. É ter a ousadia de sair de si sendo você mesmo, é perder a cabeça com ela no lugar. Porque nesse mundo louco, até é normal ser normal.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Meu Dizer

Sentei, pronto pra escrever algo. Imaginando, criando, refazendo, repensando, decifrando, e nada se tornou concreto, nada se fez suficiente, agradável, justificável. Não sabia por onde começar, no que pensar, sobre o que retratar. Pensei em escrever sobre você, pra você, sobre nós ou pra nós, mas independente de qualquer, não haveria nada que se despisse de mim ou até mesmo de você, nada teria o trato devido, nada diria tudo.
Descobri que só precisava escrever, que só precisava dizer, mesmo que nada tivesse de haver, descobri que poderia deixar me acometer, me levar e dedilhar por essas finas inobservadas linhas, deslizar nas letras suavemente abrasivo, e que nada mais poderia ser tão invasivo e sem pudor de mim mesmo, que nada seria mais explicito do que o instante de pensamentos implícitos devidamente desorganizados e que nenhum outro momento como esse diria tanto sem se entender absolutamente nada.

Descobri que não tenho, que não preciso descobrir nada, que basta apenas permitir acontecer, que o necessário nem sempre se faz necessário, porque quando você mais procura o porquê é exatamente quando menos ele se torna presente. O explicativo é subjetivo e o meu querer bem mais efusivo.
Através do passeio por estas letras me decaio sobre algumas notas desenhadas e de tom similar, é aí que então, oriundo de um sentido qualquer, me proporciono o encaixe sonoro das pausas e me represento dentro de parágrafos rabiscados de pensamentos múltiplos de indizeres.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Apenas Imagem


Hoje pude estar perto de você novamente, ouvir sobre o seu dia, você contar suas histórias e rir de você mesma como se fosse a coisa mais normal e comum, e ao mesmo tempo séria e quase trágica. Pude te fazer rir novamente das minhas besteiras, das minhas piadas sem sentido e que você só acha graça quando está assim, com um sono descomunal, mas que bateu ainda mais forte quando eu comecei a falar do meu dia, das minhas coisas emboladas, com um ' q' de seriedade além do suportável, mas que você mesma perguntou, talvez pela sua educação sempre aguçada, ou quem sabe por querer mesmo saber - eu que prefiro pensar que tenha sido a segunda opção, afinal o livro de linguagem corporal que li todo deve ter servido pra alguma coisa.
Esse momento curto, se tornou infinito ao olhar novamente em seus olhos e ver o brilho incandescente que eles carregam sem precisar de muito pra isso, ao ouvir sua risada alegre com o simples, matar a saudade daquelas piscadinhas fazendo carícias com os cílios, que só você sabe fazer. Um momento infinito com breve fim, querendo tê-lo repetido, mas sem a previsão concreta.
Ter você por perto é mais do que desejo, quase necessário, sua ausência momentânea ou eterna provoca quase a mesma sensação. Estar ao seu lado não precisa fazer sentido, não precisa haver motivos, precisa apenas de você com seu jeito próprio ou talvez impróprio para mim, já que me vicia, mas encanta, colore e faz bem. Quem me dera estar sempre ao seu lado e viver nesse mundo, longe da sépia que se transformam rapidamente meus dias longe de você.
Te ver nunca será o bastante, mas talvez seja parte de um desenho, uma pincelada de um quadro de nós dois.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Um Perdão Sem Perdão

Você disse que me perdoa, que não guarda rancor, ódio e nenhum tipo de raiva. Mas quem disse a você que quero esse seu perdão, em que momento lhe pedi esse perdão? Um perdão que é só pra você, um perdão só seu. Não quero e não preciso de um perdão que me é distante, que me absolve com uma culpa iminente e estampada, que me empurra para um lado tão distante possível de você que faz com que eu te aviste o mais próximo que meus olhos podem enxergar, mas tão distante que nem todos os anos luz a mim disponíveis seriam suficientes para te alcançar novamente.

Esse perdão é frondoso, é lindo. É lindo porque finca de uma vez por toda a importância que você dá a você mesma – o que não é um erro, é acertada a sua posição de se colocar a frente, de ter você mesma com autossuficiência em relação aos seus sentimentos, a sua segurança. É importante mesmo você se valorizar, entender aquilo que não lhe cai bem. Só não me venha com esse perdão fictício que só causa bem a você, que te engrandece, porque ele é pensado apenas pra você, e incide a obviedade do sentimento vazio que sempre existiu a mim. Não usarei isso como subterfugio de um erro convicto, há coisas que não mudam só porque você pede desculpas.
O seu perdão não é provido de sentimento, de um querer bem, de algo abrasivo ou até mesmo infortúnio, é vago, é ténue. Então pra mim é desprezível e dispensável. Porque o perdão e o furor incontrolável são parceiros, são coadjuvantes de um momento só, são prismas de um mesmo instante. Perdoar não significa querer, significa que o querer ainda é forte e enfurecido, mas que não é mais controlador, que não é o fator dominante, agora é dominado.

Se não pôde amar, não há o que perdoar, o perdão é a cicatriz do amor.