segunda-feira, 19 de março de 2012

Último Trago


Ela, ela que chegou sem avisar, sutil e de mansinho entrou primeiro pelos meus olhos, com aquele sorriso indescritível, diferente de tudo já visto, depois pelos ouvidos, com uma voz tão suave e ao mesmo tempo tão presente que me arrepiou da cabeça aos pés e me trouxe uma sensação absurda, sensação fora de controle.
Ela se aproximava, aliás, comecei a perceber que ela não se movia nem um milímetro, eu é que era puxado pra ela, não adiantaria eu me recusar, era mais forte, mais intenso que qualquer outra coisa, nada faria aquilo parar. Não entendia mais nada, como perdi todo o controle sobre mim, sobre meus desejos e ações, meu corpo não me obedecera mais. Mesmo assim a sensação era boa, ela sabia me conduzir de forma única, eu permitia então me dominar, estar presente do jeito dela. Não desejei mais o fim de nada, tudo poderia ser contínuo e pleno.
Ah ela... Me drogou, me viciou, não havia condição nenhuma de não estar com ela, de não sentir o êxtase daqueles momentos. Mas ela realmente me drogou, porque agora sinto o efeito da abstinência, o efeito contrário àqueles instantes, o devaneio que consome, a consciência inconsciente que turva toda a visão que antes era límpida, o furor levado ao avesso. Ela meu deu uma dose dela, me ensinou a consumi-la, agora esfumaça como o último trago...me deixando a mercê da memória, da lembrança que não se alimenta por si, se alimenta de mim, do meu eu viciado e consumista. Não há remédio, vacina, antidoto ou tratamento, mas disso você já sabia, como sabia que eu precisava apenas de um mínimo de você para viciar, pra me perder. E agora, mesmo insano, não procuro mais a droga que é você, agridoce, instigante, voraz e fugaz. Me deleito em saber que você não sabe, mas a droga que sou eu também te viciou e que breve moverá você a mim sem eu sair daqui nem mesmo um milímetro.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Indiscutivelmente Única

Sexo frágil. Quem ou o que é esse tal de sexo frágil? Desconhecido é de fato forma ou ser, incompreendido não só 'talvez', é incompreendido 'com certeza', incompreendida por natureza, até pela única beleza.


A mulher recebeu esse "status" não de forma receptiva, mas de maneira imposta e sem merecimento. A mulher é própria e única dentro de uma mescla infinita de exposição interna, singela e expressiva, com toda a força insuficiente de mal fazer sem a devida proporcionalidade desproporcionalmente aos momentos em fúria, seguidos de delicadeza descomunal em comum à todas elas, com a firmeza e a dureza de um ser que suporta todos os percalços com a emotividade ao fim de uma novela, com um carinho de quem firma a opinião e não volta atrás. Essa, talvez, seja a mulher, um ser único e múltiplo, definitivamente indefínivel e bela, capaz de ser ela mesma e várias ao mesmo tempo, sem perder uma essência, indiscutível, de vida.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Uma Mágica com Mais Magia


A gente pisa na bola, mete os pés pelas mãos. Se coloca na frente da carroça. Nos qualificamos em todas essas frases juntas e aplicadas ao mesmo tempo. E nem sempre temos algo a dizer a favor, às vezes nem nós estamos a nosso favor. Certas coisas são injustificáveis, inexplicáveis.
Todos nós ouvimos todos os ditados, conselhos dos avós e ainda assim pagamos pra ver, temos a mania de querer varrer a possibilidade do hoje pro amanhã, crendo que tudo poderá ser resolvido de alguma maneira mirabolante, caída do céu ou num tropeço qualquer e rotineiro. Há horas que pretendemos ser como um mágico que transforma e oculta o que bem entende no momento mais oportuno e não nos damos conta que se trata apenas de algo ilusório, e que no mundo real não pode e nunca poderá ser feito dessa forma. A mágica existente, aplicável, deve ser a do encanto verídico, do encanto com o singelo, pontual e límpido. E que quanto mais tentamos nos aproximar do mágico, mais distante da plateia se fica. A plateia exige que ter certeza é melhor que imaginar. Mas o mais importante nem é a plateia, já que nem toda ela vai te aplaudir mesmo, a maioria deve até vaiar.
A mágica em si está no brilho de assombro e encantamento que se acende nos olhos de quem vê e o importante nem sempre é como ela acontece, no que há por trás. O que conta são os poucos que ficam durante o show e aplaudem mesmo quando a tentativa falha, quando você cai por terra, o que conta é o quanto se persiste até o acerto, porque mesmo o maior fracasso, mesmo o pior erro não é pior do que tentar. O que conta é apenas buscar cada assombro daquele, cada encantamento ascendente de quem se ama o mais distante possível do mágico e o mais próximo de você mesmo.