Chega um determinado momento em que se observa
que tudo e nada faz o mesmo sentido, tem a mesma essência, o mesmo significado.
É quando se olha pro passado e só há cortes não remendados, pausas esquecidas,
prazos não cumpridos, estilhaços varridos, pinturas inacabadas, frases não
ditas, trancas enferrujadas. Cada esquecimento, cada caco não vivido é uma
história completa perdida, um desandar contínuo num espaço sem passo. É quando
a perspectiva do horizonte é reversa, a esperança de cada manhã termina após o
almoço e a força se esvai. Agora o nada é tudo e tudo é nada, com um arco-íris
incolor numa visão clara e óbvia de que nenhuma cor tem mais a mesma cor, no
de-sabor de um paladar ácido, de uma vida inerte.
É nesse instante em que te avisto, pequena e
cheia de grandeza, definida em traços únicos e singelos, de sutileza insípida e
doçura tenra, onde incide um ardor vívido e em plenitude, onde faz-se enxergar
que um amor é mais explicativo do que as letras, que um amar reconstrói cada caco
e se une a novos, que traz tinta nova àquele quadro, que refaz pausas e cria
recomeços, que abandona trancas e abre novos espaços.
Assim é te amar, oriundo de um moribundo, que de valor
só o próprio amor, e que talvez ainda não saiba o que é amar, mas que assume
tal ignorancia se tu lhe puder ensinar.
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