domingo, 21 de abril de 2013

Perspectiva


Acordei cedo, dia diferente, normalmente sempre acordo tarde, com o despertar do cheiro do almoço exacerbado pelo estômago faminto e a boca seca a salivar, acordei com o sol adentrado pela única fresta possível da cortina, chamado através dos movimentos da cortina e do vento leve que soprava. Coloquei os óculos e olhei direto pela janela, olhei sem direção, sem pretensão, sem a intenção que já me acometeu, de ver um mundo diferente, de ver um amor diferente, um dia diferente.

Amanheci nostálgico de um passado que nunca vi, com saudade daquilo que nunca senti, vislumbrado com um futuro que ainda não havia enxergado, como num simples sonho realista. Mas dessa vez o dia parecia mais claro, menos enevoado, mais vívido, o mau humor matinal durou até menos. Realmente um dia diferente a se começar.

Vivi aquele dia, como novidade, como um primeiro, algo inédito, um dia inexplicavelmente único. Vivi a pino, assim como o sol ao meio-dia.

A noite chegou e com ela a expectativa pelo dia seguinte e pelos próximos, a nostalgia do acordar voltava à tona e junto com o cansaço do dia tornava-se pior. E assim ele me venceu naquele dia, mal dormi e a noite já passou.

Acordo cedo novamente, mas dessa vez não há sol, não há fresta na cortina, só o vento, não há nostalgia, nem saudade, há apenas a perspectiva sobrevivente do dia anterior, perspectiva que passou a ser constante, diária, rotineira. Passou a ser uma forma de viver, onde a diferença está apenas nela, na perspectiva diferente de olhar cada dia, olhar cada amor.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Ilusório e Real


Hoje fui em busca de você, em busca de reencontrar a nós, em busca de reviver o que ainda não foi vivido, querendo responder as questões que não perguntamos, esclarecer dúvidas não levantadas, sentir aquilo que deixamos inacabado, com aquela pausa momentânea que nunca retomamos.

Fui em busca daquele seu olhar que me fazia abrir mão de tudo e todos, em busca daquele cheiro que fazia meu corpo vibrar incessantemente, de sentir seu toque que me levava desse mundo para um completamente fora desse plano. Corri pra ter aquele beijo que parava o mundo e nada ao redor fazia mais sentido, tudo não era nada, completamente irrelevante.

Corri, corri mais que minhas pernas pudessem suportar, além do meu folego, mas não te encontrei. Busquei em todos os locais conhecidos e desconhecidos, tentei e morreria tentando... E quando não mais sabia onde procurar, onde enfim te reencontrar, nesse instante eu descobri. Descobri que ainda não te achei, que você é apenas fruto da minha imaginação e criação solitária da minha mente perdida e cheia de devaneios, é a personificação de sonhos. Descobri que você até existe, mas não para mim, ainda.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Vivendo


Observe bem ao seu redor, tente sentir o que se passa, tente entrar e se encaixar na vibração do concreto armado, na constância inconstante do espaço/tempo, se encha com todo o odor que rodeia. Observe as cores na falta de cor presente nas misturas fixas e impalpáveis.
Não ver o mundo, não sentir o mundo, não viver o mundo, é esse o preço por viver nesse mundo, é esse o preço pago pela consciência inconsciente diária, é esse o sentido completamente sem sentido de todos os momentos decorridos e percorridos, e é esse o objetivo traçado sem traços ou definido, completamente abstrato e irreal.

Quais são os sentidos que estão a prova? Quais os sentimentos que estão ameaçados? Quais os valores apontados? Não há questões ou questionamentos, há eternas reticencias, eternas vírgulas.
Tudo se perdeu nas infinitas definições, nas edificações pessoais, nos muros interpessoais, no asfalto sentimental e nas belezas fixas e deformadas. Não há fogo porque não há ardor, não há gelo porque não há tremor, tudo se resume às inabaláveis e pequenas fortalezas de areia.

Assim o mundo se recria e se define, através das apercepções externas e dos abandonos internos, das depredações generalizadas e repulsas de si. Assim o mundo tem cada vez menos cores, menos textura, menos perfume e menos música, assim o mundo se faz tenro e sólido , vividamente pálido e insipido. 

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Respondendo


O que você poderia ser? O que gostaria de ser? O que te faria ser esse tal ser? E o que não faria? Desde quando você busca isso? Até quando essa busca existirá?

Muitos vivem nesse ritmo de perguntas próprias e inapropriadamente impróprias que aparentemente são findadas com as respectivas respostas, com as tais resoluções individuais e totalitárias. Focalizam num tal objetivo único plurificado onde a insolução se torna fracasso, incompetência, em que a transformação, a mutação seja contínua e drasticamente repentina, provocando o reestabelecimento de todo o âmago no variar dos segundos. A busca se torna cada dia mais insensível, friamente calculada, à beira da frigidez completa, em que o alcançar é o ponto final de cada interrogação. A pontuação se torna mais importante que o próprio teor, a busca pelo pontuar é mais agradável que o que antecede, que o transitório.

Descobrir aquilo que se é, o que se pode ser, é o que move e provoca um novo mundo. E o que difere cada ser é exatamente a peculiaridade de cada perspectiva, onde ritmar a busca e a definição da meta entre teor e simplesmente pontuar é o que faz o entendimento ou não de que se é aquilo que se é, ou aquilo que se quis tornar. Aceitar não é conformidade, é entender que a personificação de um ser próprio é completamente diferente da compreensão, é perceber a linha tênue que separa a transformação da mutação.

Aquele que não entende ou não visualiza as sutilezas intrínsecas de si, jamais perceberá ou será capaz de conviver com as de outrem.