Tem certos dias que ao acordar a sua manhã parece normal demais, até então alguém, naquele primeiro contato matinal lhe dizer algo, que pode ir desde o saudoso e simplório ‘Bom dia’, até o “Você é louco” - no meu caso aconteceu a parte do louco. Na hora não se sabe muito o que dizer, você está apenas acordando, seu cérebro ainda não consegue especificar nem o que ele é, o que dirá ter algo pronto o bastante para retribuir tamanha estima num momento como esse. Mas assim que retomada as condições, quis indagar: ‘Por que louco? Dormi igual a morcegos? Uma cama de faquir não me foi o bastante?’. Pensei nas coisas mais bizarras possíveis naquele instante, era o que me caberia, afinal o comentário provinha logo após uma noite de sono. Mas tem certos momentos que nada é suficientemente bizarro para descrever uma situação ou descrever um ser, e foi logo ao entrar nesse mérito que o estimado executor da pergunta desapareceu. Das duas uma, ou ele teve a confirmação da minha plena e absoluta loucura ou ele apenas achou o papo irritante demais para continuar ali. Pra mim já não fazia diferença, principalmente após esse singelo despertar.
O que realmente é intrigante é a questão de até onde pode ir a nossa loucura ou até onde somos normais, é até onde vai essa linha tênue que divide esses estados mentais reproduzidos em espelhos de nós mesmos, se é que há tal divisão. É até onde pode-se pré-definir um grau ou uma qualificação. Talvez ser normal seja o caminho pra loucura, talvez ser normal seja loucura, ou uma loucura seja tão normal, talvez a loucura seja o único remédio contra a tristeza.
Viver não é normal, é loucura. Sobreviver é que é normal, e é por isso que se está aqui. Viver é bem mais que manter a mente sã, é bem mais que cometer devaneios. Viver é sobreviver a cada dia normal através de loucuras, é enlouquecer normalmente. É ter a ousadia de sair de si sendo você mesmo, é perder a cabeça com ela no lugar. Porque nesse mundo louco, até é normal ser normal.