Acordei cedo, dia diferente, normalmente sempre acordo
tarde, com o despertar do cheiro do almoço exacerbado pelo estômago faminto e a
boca seca a salivar, acordei com o sol adentrado pela única fresta possível da
cortina, chamado através dos movimentos da cortina e do vento leve que soprava.
Coloquei os óculos e olhei direto pela janela, olhei sem direção, sem pretensão,
sem a intenção que já me acometeu, de ver um mundo diferente, de ver um amor
diferente, um dia diferente.
Amanheci nostálgico de um passado que nunca vi, com saudade
daquilo que nunca senti, vislumbrado com um futuro que ainda não havia
enxergado, como num simples sonho realista. Mas dessa vez o dia parecia mais
claro, menos enevoado, mais vívido, o mau humor matinal durou até menos.
Realmente um dia diferente a se começar.
Vivi aquele dia, como novidade, como um primeiro, algo
inédito, um dia inexplicavelmente único. Vivi a pino, assim como o sol ao
meio-dia.
A noite chegou e com ela a expectativa pelo dia seguinte e pelos
próximos, a nostalgia do acordar voltava à tona e junto com o cansaço do dia
tornava-se pior. E assim ele me venceu naquele dia, mal dormi e a noite já
passou.
Acordo cedo novamente, mas dessa vez não há sol, não há
fresta na cortina, só o vento, não há nostalgia, nem saudade, há apenas a
perspectiva sobrevivente do dia anterior, perspectiva que passou a ser
constante, diária, rotineira. Passou a ser uma forma de viver, onde a diferença
está apenas nela, na perspectiva diferente de olhar cada dia, olhar cada amor.