Dizer que te quero e te olhar nos olhos sem enxergar aquele
brilho que só neles existiam, sentir sua mão gélida ao tocar a minha, ver que
as despedias têm sensação de cotidiano, de rotineiras e não mais corroem. Não
tenho mais ouvido sua voz, nem observado seu sorriso, nem ao menos secado suas
lágrimas. Não sei sua nova rotina, seu gosto novo, seu gosto antigo que
despertou com força após um contentamento ou melancolia súbita.
Hoje acordei querendo você como te quis naqueles primeiros
dias em que nos conhecemos, hoje disquei seu número pra te pedir de volta, pra
dizer que há uma saudade incessante, mas titubeei, travei e desisti. Acordei
pensando se te ver era o remédio tarja preta pra minha abstinência de você ou
se isso seria uma overdose.
Você se foi e não encostou a porta, saiu e trancou, deixou
tudo como estava, seu canto impecavelmente desorganizado, suas tralhas
amontoadas, seus desejos grudados nas paredes, seus sonhos suspensos por toda
parte e todos inacabados, rascunhos dos nossos projetos, apenas tracejados do
nosso futuro. Fiquei com tudo isso e sem nada disso, cheio de esperanças que
você carregou na mala, certo da dúvida que você não deixou ao me beijar na testa
e dizer adeus.
Difícil assimilar, complicado entender, mas irrevogável e
irremediável, você se foi e não olhou pra trás, apenas ergueu-se e seguiu. Agora
sei que não voltará, sei que o futuro não nos foi reservado, hoje sei que o
futuro será apenas uma estampa do passado.