sexta-feira, 29 de julho de 2011

Confundo

Venha, e segure a minha mão, sinta o calor que ela emana, provindo de um palpitar sem ao menos breves pausas, da respiração trêmula e descontínua. Observe o expandir do meu peito como a quem procura por um ar que parece cada vez mais rarefeito. Veja em meu olhar perdido no horizonte, da pupila dilatada a face sua refletida em um momento eterno, um lacrimejar vagaroso de ar duvidoso.

Chegue mais perto, me abrace, veja meu sangue já gélido correr dentre as veias, será capaz de me aquecer nesse instante?! Decifre esses meus pensamentos distorcidos de um sentimento só. Sinta o exalar do meu eu em te querer, escute a boca muda gritar seu nome em alto som e me diga em seu silêncio aquilo que tanto quero ouvir e que você nunca soube manifestar, satisfaça meus ouvidos sob essa melodia sem tons, oriunda do olhar infinito de um adeus.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Minuto pra Organizar

Essa noite resolvi ficar mais um pouco na varanda, apesar do frio já querer se encostar, me senti confortável. Não sei, de vez em quando faz bem ter um momento seu pra refletir, arrumar aquela gaveta na sua cabeça que anda um tanto revirada por diversos motivos, mas que nunca se tem o tempo necessário. É interessante que se percebe quanta coisa há guardada e que acabou ficando pelo fundo dessa gaveta e quantas dessas coisas foram e ainda são tão importantes, coisas que são realmente significativas, mas que por alguma razão você colocou lá e decidiu deixar de lado, seja por te fazer mal lembrar, porque você acha que amadureceu demais e aquela circunstância deixou de ser relevante pra você, motivos pra se esquecer de certas coisas nós temos de sobra, porque esquecer é uma necessidade, um modo de proteção. Lembrar pode machucar, pode ferir ou abrir aquela ferida não cicatrizada. Essa é a maneira fácil de encarar as coisas, a maneira indolor, e aí me questionei, é a melhor maneira? Não sei se a melhor, a mais fácil é certo, já que encarar, ir de encontro, assimilar aquele fato marcado, tem que ter coragem, tem que estar disposto a sentir aquilo que nunca se quis sentir, o que dirá ressentir, é ser capaz de assimilar e transformar tal coisa para algo engrandecedor, algo que revigorará e de dolorido, sofrido, para algo que trará alívio, que trará paz. Estar em ordem com essa gaveta pode ser complicado, pode ser desumano talvez, mas um minuto dedicado a isso pode transformar o resto da sua vida.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Definindo Limites

Podia existir um guia para a intimidade, um mapa, algo que indicasse o destino certo, a melhor forma de agir pra que nos impeça de ultrapassar aquele limite aceitável, aquele limite em que pode se colocar tudo a perder mesmo sem a menor intenção de tal, ou quem sabe uma lente invisível onde poderíamos enxergar melhor nossas atitudes, posturas, que nos desse um olhar menos míope dos acontecimentos em certas ocasiões.

Há instantes em que nos martelamos querendo tudo isso, em que tudo isso faz todo o sentido, quando tudo já perdeu o sentido e não se sabe mais o que fazer porque não há mais nada a fazer, quando a melhor solução não existe, mas é a única. Queremos regras, um modelo padrão pra se seguir, e até perguntamos a nós mesmos, ’será que não existe um jeito certo pra eu fazer isso?’, e a resposta acaba sendo óbvia, talvez dura e irremediável. Não há regras, seguir a intuição, essa seja talvez a chave para a decisão; a resposta correta, cada momento pedirá uma e só você sabe de você, só você conhece seus limites e sabe o que tem a perder, não há nenhum tipo de GPS que possa guiar esses instantes, temos que descobrir sozinhos, arriscar, correr o perigo de errar, de pisar feio na bola, de extrapolar total, de ultrapassarmos a linha, de perdermos a linha. Precisamos de lições sempre e é assim que teremos algumas, precisamos de choques agudos pra melhorarmos nossas miopias e isso é o que há pra fazer, isso é o que distingue cada intimidade, cada aprendizado. Não se acovarde, seja capaz de pagar pra ver, nenhuma decepção é pior do que a que se tem com você mesmo.

sábado, 9 de julho de 2011

Uma Quina Diferente

Já topou o dedo mínimo do pé em alguma quina? Comigo aconteceu hoje. Dor que parece infinita. A vista escurece, o fôlego desaparece, o momento entristece e o palavrão na mente enriquece. É uma das coisas que nunca esperamos e que quando acontece é repentino e não há nada que resolva, tem que deixar passar, esperar a dor ir embora.

E se apaixonar arrebatadoramente? Se já aconteceu com você, certamente saberá que há uma grande semelhança entre esses dois fatos, com a pequena diferença do local da dor, quando essa paixão por algum motivo não te faz feliz o quanto poderia, ou até faz, mas em contrapartida causa também uma dor diretamente proporcional. Se ainda não aconteceu, não se preocupe, você ainda vai achar essa quina aparentemente inofensiva, mas que te fará sair deste plano pra um completamente fora de proporção, em que você se perguntará o porquê.
Se apaixonar é não enxergar com olhos próprios, às vezes é perder completamente a visão, é planar num universo paralelo, sair de si e mutar. Não há nada que uma paixão não possa despertar, não há nada que não possa ser.

Vale a pena mirar e jogar o dedo de encontro à quina? Provavelmente não, e você nem sentiria a mesma dor. Mas você também não vive de olho nas quinas fugindo delas. Assim é com uma paixão, você não mira, não busca e nem escolhe, ela vem de repente e simplesmente acontece, arrebata. Nem todas doerão, nem todas serão maravilhas. É deixar acontecer, e nessa sim você se joga, porque doendo ou não, momentos maravilhosos certamente acontecerão. E se nada de bom restar, restou você, de pé e com empunhadura o suficiente para uma nova topada.

domingo, 3 de julho de 2011

Perder pra Conhecer

E se você descobrir que precisa de amor e não tiver, se gostar e sentir como se não conseguisse viver sem? E se você moldar sua vida em torno dele e ele desmoronar? O mundo parece não ter mais chão, eterno abismo. As mãos tremulas de ansiedade não tem lugar, o olhar se perde em meio a tudo e todos como se buscasse alguém sem a pretensão de ver ninguém, os pensamentos se multiplicam e esvaem na mesma fração de segundo, o coração inquieto não sabe se bate cada vez mais forte ou se para de uma vez. A cada esquina cruzada um vulto se faz presente e se torna ausente, como se todos fossem um só ser, como se a imagem refratasse da mente. Perder um amor se transforma em como perder um órgão, em como morrer, a diferença é que a morte tem fim, mas isso parece durar pra sempre, a falta, a dor é constante e vem repentina. O corpo suplica piedade e compaixão, sem forças suficientes pra ter uma reação ou levante, o colorir agora desbotado, o sorrir agora magoado, o esplendor do sentimento transformado em horror sem seu consentimento.

Até se descobrir que o ar é ainda mais importante, que dá pra viver a cada instante, que a luz do dia não se apagou tanto assim. As lágrimas já não correm mais, a vontade de ligar já deixou em paz. Descobrir que nada desmoronou de verdade, tudo continua intacto e que como todos os outros machucados esse vai fechar também e se viverá muito bem.

Não é que viver só seja um novo caminho a seguir, a perseguir, mas talvez também possa descobrir que o que falta é se descobrir, alavancar os próprios alicerces e moldar-se a si. Conhece-te a ti mesmo e nada poderá desestruturar.